segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Arquitetura e limites

  Bernard Tschumi inicia seu texto ressaltando a existência e a importâncias dos limites dentro de diversos campos, desde a arquitetura até a música e o teatro. Essas obras deniminadas por ele como limites são de grande importância devido ao fato delas desentoarem da maior parte das obras de seus criadores, por serem de certa forma "expeimentais". Entretanto em alguns casos estas obras são negligenciadas pelo mercado que criam e disseminam uma visão reducionista destas obras, que apesar de fundamentais, acabam por serem eliminadas dos veículos de acesso. Forçado pelo mercado e pela mídia, é padronizado então um estilo do autor que vê seu trabalho limitado e preso a preceitos do mercado, dificultando assim a evolução do seu campo de atuação, seja ele a arquitetura, a música, a literatura, dentre outros.
  O autor atenta também para a linearidade histórica a qual imaginamos. Segundo Tschumi, essa visão é uma forma de reducionismo praticada por correntes dominantes de historiadores que simplesmente descartam obras por serem taxadas de conceituais. A partir disso pode-se imaginar também possíveis reducionismos praticados em outras épocas que escondem ou mantêm obras desconectadas do acervo principal dos autores.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Forma e influência

Introdução

“A forma segue a função”. O principio da corrente funcionalista do século passado ainda é um dos grandes desafios na produção arquitetônica atual. “A definição de forma é simplesmente forma ou configuração” (Form and Function Today - Mary McLeod ). Desta forma, no âmbito da arquitetura, entende-se forma como a morfologia do edifício, sua organização, a relação entre cheiros e vazios, ritmo, materiais, texturas, enfim, tudo o que configura o espaço.
Ocorre que muitas vezes a forma precede e prevalece à função, deixando o potencial da arquitetura - sua função estética, social e política - em segundo plano.
A banalização da forma resultado da cultura capitalista vem desvinculando estes dois termos, que parecem estar cada vez mais distantes. Se a forma não atende ao propósito de uso, de que vale tal forma?  Destarte, o objeto perde toda sua riqueza estética, quando na sua conotação de experiência visual e corpórea.

Forma e Influência

Nas artes autônomas como música, escultura e pintura, forma e função (com proposta social, política ou cultural) nunca estiveram separadas, diferentemente da arquitetura, que teve sua produção comprometida devido a este afastamento.
De acordo com Odile Decq “(...) arquitetura é sempre contextual e contingente, e a forma nunca vem primeiro. Não estou interessado em fazer formas, apesar de um projeto sempre ter forma. Ao mesmo tempo, forma na arquitetura não é apenas a influência externa. É uma relação mais complexa.” A complexidade a que a autora se refere está diretamente relacionada com o sublime, ou seja, o que se espera no ato projetual, do intimo e consciente do arquiteto, bem como as experiências vivenciadas.
Com os avanços tecnológicos a concepção da forma por vezes é banalizada. As diversas ferramentas e softwares abrem uma gama de possibilidades criativas, que por vezes nos condicionam de acordo com suas limitações. É claro que as novas tecnologias possibilitaram a construção de edificações mais complexas, bem como o Guggenheim de Bilbao, do arquiteto Frank Gehry, cuja forma só foi possível graças à estes programas de representação e experimentação. Por vezes, quando o arquiteto tem o computador como sua ferramenta principal e primeira de projeto ocorre um distanciamento do usuário uma vez que o computador elimina o contexto em que o projeto está inserido.

                                                  Guggeheein de Bilbao (edificandoonline.blogspot.com)

                                                   Guggeheein de Bilbao (coolwallpapers.blogstpot.com)


No caso do museu de Guggenheim de Bibao ,que possui curvas esculturais, com aparência de inacabado mas extremamente harmônico , apresenta as formas desadaptadas do contexto que ele exerce. A inovação  do edifício se limita a parte externa, uma vez que seu interior apresenta as funções básicas de um museu convencional. O contrario acontece no museu Guggenheim de Nova Iorque, de Frank Lloyd Wright, que remete, em sua forma espiral, à própria  história da arte. 

                            Guggeheein de Nova Iorque (assimeugosto.com)

                                                     Guggeheein de Nova Iorque (villalobosbrothers.com)

No entanto, mesmo o mais mundano e utilitário edifício tem forma, uma vez que matéria sem forma não existe. A partir da movimentação de formas primárias, simples, da geometria espacial, é possível se chegar a conformações complexas e inovadoras. Exemplo disso é o Peter Eisenman, arquiteto que mesmo antes da inovação do computador, experimentou e manipulou essas formas, com conceitos bem fundamentados. Um exemplo é o projeto da casa Guardiola, onde essa manipulação do cubo é materializada. 

 

Função é determinada, mas não fixa, prescrita. Ela é “expansiva e transformadora” (Mary McLeod – Form and Function Today), passível de interpretações e intervenções. E é nessa relação simbiótica entre forma e função que reside o potencial estético, social e crítico da arquitetura.

Zaha Hadid e a forma

A arquiteta iraquiana radicada em Londres é conhecida pelos seus projetos ousados, onde explora a fragmentação, as formas curvilíneas alongadas, fluidas e complexas. Não é por acaso que seus projetos são conhecidos internacionalmente pela originalidade e conceito.
O mais notável nos trabalhos da arquiteta é o fato de que forma nunca vem sozinha, apenas sua função plástica. Um exemplo é o Guangzhou Opera House, localizada na cidade de Guangzhou, na China. Externamente as fachadas são formadas por panos triangulares de vidro e granito cinza-escuro apicoado, o que já deixa o edifício, a priori, bem interessante. Mas a grande surpresa está nas duas construções que abrigam um auditório cada um e um teatro com 1800 lugares. Aí, as formas orgânicas tão usadas pela arquiteta, milimetricamente estudadas, têm a função de afinar os parâmetros acústicos como reverberação, clareza e volume. Além disso, as paredes douradas com a constelação de leds fazem com que o ambiente desperte sensações únicas.

                                                                Guangzhou Opera House (wordlesstech.com)

                                                                         Guangzhou Opera House (itsliquid.com)

Mas experiências de formas não se detêm somente aos edifícios. A Zaha Hadid é uma conceituada design e aplica suas experiências em móveis e objetos. Um exemplo é sua cadeira Z. Mais sensato seria chamá-la de escultura. O aço inoxidável moldado em curvas sinuosas (já falamos aqui que é uma das marcas da arquiteta) cria um ritmo, de cheios e vazios, dando leveza e transparência à cadeira, o que parece fazê-la flutuar. No design clássico toda cadeira é uma cadeira, mas esta não! O que está em jogo é o discurso da forma, a experimentação, e salvo a ergonomia (a maior função de uma cadeira), ela se revela bela, elegante e única.

                                                                                         Cadeira Z (saberdesign.com)

O “forte” da artista também está presente no design dos calçados que criou para as marcas Lacoste e Melissa. No primeiro, a peculiaridade do modelo está no formato ergonômico feito de malha metálica, que expressa a “marca do crocodilo”. Com o movimento essa malha se expande e se contrai adaptando-se ao corpo e formando um efeito de paisagem que vai se modificando. Na marca brasileira Melissa a idéia de movimento inspirou a fluidez do design. Sem fechamentos ou costuras a sandália se adequa perfeitamente ao corpo, numa relação simbiótica.


                                                       Lacoste (makebafonica.blogspot.com)

                                                            Melissa (black-renaissance.blogspot.com)

 
Conclusão

Forma e função não devem estar desatreladas, seja qual for o meio de concepção da forma (intuitiva, manipulação, experimentação). Arquitetura é contextual e contingente, a forma nunca deve vir primeiro, como observamos nos trabalhos dos arquitetos citados no decorrer do trabalho. Em seus projetos forma e função se completam, na falta desses elementos, o outra tem seu valor diminuído, esvaziando-se de sentido.

Bibliografia

Livro “The state of architecture at the beginning of the 21st century”, capítulo “Form + Influence”.
http://www.novonucleo.com.br/blog/index.php?i=2&cod=119
http://dailymodalisboa.blogspot.com/2009/06/lacoste-e-zaha-hadid-lancam-coleccao-de.html

 Grupo : Amanda Acipreste, Danielle Lopes, Etienny Natia, Fábio Passos, Gustavo Tristão.